Deficiente visual encontra nos livros
em áudio o caminho para o
conhecimento.
A cegueira aguça outros sentidos. No caso de Sérgio
Florindo, que nasceu com a deficiência visual sem chance de
reversão, paladar, olfato, tato e audição foram fontes de
informação para imaginar as coisas, além de ele perguntar
sempre e várias vezes sobre tudo, até obter diferentes
descrições e chegar o mais perto do real.
Assim Sérgio seguiu a vida, desde o nascimento, com a
cegueira em segredo, por vergonha e para não ser tratado de
maneira diferente, até cursar o Ensino Médio. Na escola, ele
contou, a partir da sétima série do antigo ginásio, com a ajuda
de dois amigos confidentes, que narravam tudo para ele: das
aulas às possíveis paqueras.
Além do auxílio dos amigos, que se distanciaram em alguns
momentos da vida, Sérgio conheceu na adolescência, aos
14 anos, outro “aliado”: a leitura Possível, em um primeiro
momento, com o auxílio de voluntários e amigos e
atualmente, por meio de audiolivros.
“O livro traz um plus. O mundo do deficiente visual é o
mundo das ideias e do pensamento. O livro é a chave
que dá movimento e vida para esse mundo”, explica Sérgio,
hoje com 52 anos. “Com o livro, mediante a descrição do
autor, eu consigo configurar na minha mente imagem de
pessoas, lugares etc. Com toda a certeza recomendo a leitura,
seja ela da maneira que for. É o melhor e mais excelente
caminho ao conhecimento”, declara um dos mais
assíduos frequentadores da Biblioteca de São Paulo, local que
visita semanalmente para pegar cerca de dez livros para
devorar em casa, apesar de haver por lá um
raro equipamento para
audição literária.
"Conheci o audiolivro há dois anos na Biblioteca de São Paulo,
não sabia de sua existência. São obras muito bem
narradas. A biblioteca possui bastante obras em áudio, mas ainda
assim o número não se compara à quantidade de
impressos. Infelizmente, as editoras não são obrigadas por lei ao
lançar um livro impresso, a também transformá-lo em áudio.
Por isso, esse nicho ainda é pequeno. Sinto falta de alguns
best sellers que ainda não existem em audiolivro”, cobra
Sérgio, que indica aos cegos do Brasil o acervo da
Fundação Dorina Nowill, pela internet, e também a visita a
bibliotecas, um local que o encanta.
“Na biblioteca eu sinto estar bem perto da sabedoria, ao alcance
dela. O ambiente muito agradável e amistoso pelas pessoas
que lá trabalham, me transmite a saciedade da enorme ânsia que
tenho de procurar conhecer as coisas do passado, do presente
e do futuro”, indica.
As obras indicadas por Sérgio
Primeiras
"A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água", Jorge Amado;
"Viagem ao Centro da Terra", Júlio Verne; "Conde de Monte
Cristo", Alexandre Dumas
Todos têm que ler
A "Bíblia Sagrada"; "Dom Quixote", Miguel de Cervantes
Prediletas
"Dom Quixote"; "Capitães de Areia", "Mar Morto" e "Tocaia
Grande – A Face Obscura", Jorge Amado; "Vidas Secas",
Graciliano Ramos; as obras do Stephen King; "Brumas de
Avalon", Marion Zimmer Bradley; "As Cinco Pessoas
que Você Encontra no Céu", Mitch Albom
Indicadas a cegos
"Minha Vida com Boris", Thays Martinez; e a biografia de
Mara Gabrilli
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