segunda-feira, 4 de maio de 2020

Audiolivro



Deficiente visual encontra nos livros
em áudio o caminho para o
conhecimento.



A cegueira aguça outros sentidos. No caso de Sérgio 
Florindo, que nasceu com a deficiência visual sem chance de 
reversão, paladar, olfato, tato e audição foram fontes de 
informação para imaginar as coisas, além de ele perguntar 
sempre e várias vezes sobre tudo, até obter diferentes 
descrições e chegar o mais perto do real.

Assim Sérgio seguiu a vida, desde o nascimento, com a 
cegueira em segredo, por vergonha e para não ser tratado de 
maneira diferente, até cursar o Ensino Médio. Na escola, ele 
contou, a partir da sétima série do antigo ginásio, com a ajuda 
de dois amigos confidentes, que narravam tudo para ele: das 
aulas às possíveis paqueras.

Além do auxílio dos amigos, que se distanciaram em alguns 
momentos da vida, Sérgio conheceu na adolescência, aos 
14 anos, outro “aliado”: a leitura Possível, em um primeiro 
momento, com o auxílio de voluntários e amigos e 
atualmente, por meio de audiolivros.

“O livro traz um plus. O mundo do deficiente visual é o 
mundo das ideias e do pensamento. O livro é a chave
 que dá movimento e vida para esse mundo”, explica Sérgio, 
hoje com 52 anos. “Com o livro, mediante a descrição do 
autor, eu consigo configurar na minha mente imagem de
 pessoas, lugares etc. Com toda a certeza recomendo a leitura, 
seja ela da maneira que for. É o melhor e mais excelente 
caminho ao conhecimento”, declara um dos mais 
assíduos frequentadores da Biblioteca de São Paulo, local que 
visita semanalmente para pegar cerca de dez livros para 
devorar em casa, apesar de haver por lá um 
raro equipamento para 
audição literária.

"Conheci o audiolivro há dois anos na Biblioteca de São Paulo,
 não sabia de sua existência. São obras muito bem 
narradas. A biblioteca possui bastante obras em áudio, mas ainda
 assim o número não se compara à quantidade de 
impressos. Infelizmente, as editoras não são obrigadas por lei ao 
lançar um livro impresso, a também transformá-lo em áudio. 
Por isso, esse nicho ainda é pequeno. Sinto falta de alguns 
best sellers que ainda não existem em audiolivro”, cobra 
Sérgio, que indica aos cegos do Brasil o acervo da 
Fundação Dorina Nowill, pela internet, e também a visita a 
bibliotecas, um local que o encanta.

“Na biblioteca eu sinto estar bem perto da sabedoria, ao alcance 
dela. O ambiente muito agradável e amistoso pelas pessoas 
que lá trabalham, me transmite a saciedade da enorme ânsia que 
tenho de procurar conhecer as coisas do passado, do presente
 e do futuro”, indica.

As obras indicadas por Sérgio

Primeiras

"A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água", Jorge Amado;
 "Viagem ao Centro da Terra", Júlio Verne; "Conde de Monte 
Cristo", Alexandre Dumas

Todos têm que ler

A "Bíblia Sagrada"; "Dom Quixote", Miguel de Cervantes

Prediletas

"Dom Quixote"; "Capitães de Areia", "Mar Morto" e "Tocaia
 Grande – A Face Obscura", Jorge Amado; "Vidas Secas", 
Graciliano Ramos; as obras do Stephen King; "Brumas de 
Avalon", Marion Zimmer Bradley; "As Cinco Pessoas 
que Você Encontra no Céu", Mitch Albom

Indicadas a cegos

"Minha Vida com Boris", Thays Martinez; e a biografia de
 Mara Gabrilli

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