segunda-feira, 10 de agosto de 2015
História do Cangaço: entrevista com a filha e com a neta de Lampião
LAMPIÃO E SEUS CANGACEIROS DEGOLADOS
LAMPIÃO E SEUS CANGACEIROS DEGOLADOS
DATA DA FOTO: 1938.
FOTÓGRAFO: Benjamin Abraham.
LOCAL: Piranhas, AL, Brasil.
O bando de Lampião estava acampado na fazenda Angicos em 27 de julho de 1938, situana no sertão de sergipe. Era um esconderijo tido como altamente seguro para o bando. Era uma noite muito chuvosa e todos estavam acampados. Por volta de 5:15h do dia 28 de julho do mesmo ano, um grupo de policiais (volante) portando metralhadoras portáteis, chegou ao local e começou a disparar rajadas de bala. A indicação de onde os cangaceiros estavam foi uma traição que até hoje se desconhece o autor. O ataque durou mais ou menos 20 minutos. Os disparos de metralhadoras foram feitos pelo tenente João Bezerra e o sargento Aniceto Rodrigues da Silva.
Dos trinta e quatro cangaceiros presentes, onze morreram ali mesmo. Lampião foi um dos primeiros a morrer (degolaram ele). Maria Bonita estava gravemente ferida e foi degolada ainda com vida. O mesmo ocorreu com Quinta-Feira, Mergulhão (os dois também tiveram suas cabeças arrancadas em vida), Luis Pedro, Elétrico, Enedina, Moeda, Alecrim, Colchete e Macela. Um dos policiais, demonstrando ódio a Lampião, desfere um golpe de coronha de fuzil na sua cabeça, deformando-a; este detalhe contribuiu para difundir a lenda de que Lampião não havia sido morto, e escapara da emboscada, tal foi a modificação causada na fisionomia do cangaceiro.
DESCRIÇÃO DA FOTO (de cima para baixo; da esquerda para a direita)
1. Diferente, 2."Não identificado", 3. Cajarana, 4. Medina, 5. Caixa de Fósforo, 6. Elétrico, 7. Mergulhão, 8. Luís Pedro, 9. Maria Bonita, 10. Quinta-Feira, 11. Lampião.
19.1.11
Imagens do Cangaço
Maria Bonita
Maria Bonita
Maria Bonita
Maria Bonita
Maria Bonita e o Bando
Bando de cangaceiros e sequestrados.
Em pé, Maria Bonita e Lampião, 1936
Sem chapéu, Abrahao e o bando de Lampião
Dadá e Corisco
O libanês Benjamin Abrahão Botto foi responsável pelo registro iconográfico do cangaço e de seu líder, Virgulino Ferreira da Silva – o Lampião. Migrou para o Brasil em 1915. Mascate de tecidos e miudezas, foi secretário do Padre Cícero, e conheceu o cangaceiro Lampião em 1926, quando este foi até Juazeiro do Norte receber a bênção do vigário. Em 1929 Abrahão fotografou o líder cangaceiro ao lado do padre. Depois da morte de Padre Cícero, Abrahão teve permissão para acompanhar o bando na caatinga e realizar as imagens que o imortalizaram. Para tanto teve a parceria do cearense Ademar Bezerra de Albuquerque, dono da ABAFILM que, além de emprestar os equipamentos, ensinou o fotógrafo seu uso.
Abrahão teve seus trabalhos apreendidos pela ditadura de Getúlio Vargas, que nele viu um opositor ao regime. Morreu esfaqueado (quarenta e duas facadas), crime nunca esclarecido. Especula-se que pode ter sido um crime político, a mando de Vargas..
Transcrevo, aqui, texto do próprio Lampião, atestando a autenticidade das fotos de Abrahão Botto (com grafia original).
Illmo Sr. Bejamim Abrahão
Saudações
Venho lhi afirmar que foi a primeira peçoa que conceguiu filmar eu com todos os meus peçoal cangaceiros, filmando assim todos us muvimento da noça vida nas catingas dus sertões nordestinos.
Outra peçoa não conciguiu nem conciguirá nem mesmo eu consintirei mais.
Sem mais do amigo
Capm Virgulino Ferreira da Silva
Vulgo Capm Lampião
Inacinha, em vestido de batalha, mostra como a perneira casava com a alpercata, Piranhas, Alagoas, 1936
Canário: perneiras em ação, 1936
morto Lampião, Corisco passa a Rei do Cangaço, 1939
Maria Bonita: vestido de batalha, 1938
Maria Gomes de Oliveira, vulgo Maria Bonita foi a primeira mulher a participar de um grupo de cangaceiros. Já o EscritorJoão de Sousa Lima, um dos principais biógrafo de Maria Bonita, afirma que a cangaceira nasceu em 08 de março de 1911. Maria Bonita nasceu em 8 de março de 1911 no sítio Malhada da Caiçara, do município de Paulo Afonso, na época município gloriense, na Bahia.
Corisco
28 de julho de 1938. Chega ao fim a trajetória do mais popular cangaceiro do Brasil. Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, foi morto na Grota do Angico, interior de Sergipe. Por sua inteligência e destreza, Lampião até hoje é considerado o Rei do Cangaço. Virgulino Ferreira da Silva nasceu em 1897, na comarca de Vila Bela, região do Vale do Pajeú, Estado de Pernambuco. Dos 9 irmãos, Virgulino foi um dos poucos a se interessar pelas letras. Freqüentava as aulas dadas por mestres-escolas que se instalavam nas fazendas. No sertão castigado por secas prolongadas e marcado por desigualdades sociais, a figura do coronel representava o poder e a lei. Criava-se desta forma um quadro de injustiças que favorecia o banditismo social. Pequenos bandos armados, chamados cangaceiros, insurgiam-se contra o poder vigente e espalhavam violência na região.
Grupo de Lampião (este à esquerda), em 1929 na fazenda Jaramataia (SE). Ao seu lado, sentado, o cunhado Virgínio, conhecido como Moderno. Atrás dele, seu irmão Ezequiel, o Ponto Fino.
CORISCO E ROXINHO
Eram freqüentes, também, os atritos entre famílias tradicionais devido as questões da posse das terras, as invasões de animais e as brigas pelo comando político da região. Num desses confrontos, o pai de Lampião foi assassinado. Para vingar a morte do pai, entre outros motivos, Lampião entra para o cangaço, por volta de 1920.
SINHÔ PEREIRA / BANDO A CAVALO, LAMPIÃO NO CAVALO BRANCO
A princípio segue o bando de Sinhô Pereira. Mostrando-se hábil nas estratégias de luta, assume a chefia do bando em 1922, quando Sinhô Pereira deixa a vida do cangaço. Lampião e seu bando vivem de assaltos, da cobrança de tributos de fazendeiros e de "pactos" com chefes políticos.
Praticam assassinatos por vingança ou por encomenda. Pela fama que alcança, Lampião torna-se o "inimigo número um" da polícia nordestina. Muitas são as recompensas oferecidas pelo governo para quem o capture. Mas as tropas oficiais sempre sofrem derrotas quando enfrentam seu bando.
AZULÃO E ENEDINA, DADÁ E SABONETE / INACINHA E GATO
Como a polícia da capital não consegue sobreviver no sertão árido, surgem as unidades móveis da polícia, chamadas Volantes. Nelas se alistam os "cabras", os "capangas" familiarizados com a região. As volantes acabam tornando-se mais temidas pela população do que os próprios cangaceiros.
LAMPIÃO E ANTONIO FERREIRA (IRMÃO)
Além de se utilizarem da mesma violência no agir, ainda contam com o respaldo do governo. Lampião ganha fama por onde passa. Muitas são as lendas criadas em torno de seu nome. Por sua vivência no sertão nordestino, em 1926, o governo do Ceará negocia a entrada de seu bando nas forças federais para combater a Coluna Prestes. Seu namoro com a lei dura pouco. Volta para o cangaço, agora melhor equipado com as armas e munições oferecidas pelo governo.
MARIA BONITA E CORISCO "O DIABO LOIRO"
Em 1930, há o ingresso das mulheres no bando. E Maria Déia, a Maria Bonita, torna-se a grande companheira de Lampião. Em 1936, o comerciante Benjamin Abraão, com uma carta de recomendação do Padre Cícero, consegue chegar ao bando e documenta em filme Lampião e a vida no cangaço. Esta "aristocracia cangaceira", como define Lampião, tem suas regras, sua cultura e sua moda. As roupas, inspiradas em heróis e guerreiros, como Napoleão Bonaparte, são desenhadas e confeccionadas pelo próprio Lampião. Os chapéus, as botas, as cartucheiras, os ornamentos em ouro e prata, mostram sua habilidade como artesão.
CORISCO E DADÁ
Após dezoito anos, a polícia finalmente consegue pegar o maior dos cangaceiros. Na madrugada do dia 28 de julho de 1938, a Volante do tenente João Bezerra, numa emboscada feita na Grota do Angico, mata Lampião, Maria Bonita e parte de seu bando.
AS ONZE CABEÇAS DOS CANGACEIROS ARRUMADAS NA ESCADARIA DA PREFEITURA DE PIRANHAS
Suas cabeças são cortadas e expostas em praça pública. Lampião e o cangaço tornaram-se nacionalmente conhecidos. Seus feitos têm sido freqüentemente temas de romancistas, poetas, historiadores e cineastas, e fonte de inspiração para as manifestações da cultura popular, principalmente a literatura de cordel.
Fonte 1: TV Cultura
Leia mais no Jornal O povo
LAMPIÃO E O BANDO, QUE CHEGOU A TER QUASE 150 PESSOAS
CURIOSIDADES
Lampião ganhou esse apelido ao inventar uma técnica que fazia o rifle comum disparar mais rápido, parecendo uma pistola automática – o clarão que saía da boca da arma lembrava a luz de um lampião.
LAMPIÃO VESTIDO COM A FARDA DO "BATALHÃO PATRIÓTICO" (JUAZEIRO 1926, FOTO DE LAURO CABRAL)
“Sempre respeitei e continuo a respeitar o Estado do Ceará, porque é o Estado de Padre Cícero. Como deve saber, tenho a maior veneração por esse santo sacerdote, porque é o protetor dos humildes e infelizes”. Lampião referindo-se a Padre Cícero, em entrevista de 1926
"DURVINHA" DE ARMA EM PUNHO
Atendendo ao chamado de Padre Cícero, Lampião esteve em Juazeiro do Norte (CE), nos dias 4, 5, 6 e 7 de março de 1926. Na ocasião, recebeu a patente de Capitão do Batalhão Patriótico para perseguir a "Coluna Prestes". Em 1926, o bando de Lampião passa a contar com armas e uniformes semelhantes aos utilizados pelo exército. Após as "honrarias" e o recebimento de forte armamento, Lampião e seu bando vão embora sem cumprir sua parte no acordo, a partir de então, passam a sofrer grande perseguição policial.
MARIA BONITA E CANDEEIRO / GATO
Combate de Serra Grande (PE). Em 26 de novembro de 1926 Lampião travou uma das mais intensas batalhas. Cerca de 320 policiais atacaram o grupo de Lampião que contava com 80 homens. A luta durou o dia inteiro e teve como saldo 47 soldados mortos e feridos. Um dos comandantes, sargento Arlindo Rocha, ansioso para atacar disse: “Eu hoje quero almoçar é bala.” Acabou levando, durante o combate, um tiro na mandíbula. De fato, almoçou bala... Ficou conhecido posteriormente como “Queixo de Prata”.
LAMPIÃO É O PRIMEIRO SENTADO A ESQUERDA / LAMPIÃO EM 1936
Em 1926, num ato de gozação, Lampião enviou um telegrama ao Governador de Pernambuco dizendo que seria governador de uma determinada área do Estado. Por isso, o apelido “Governador dos Sertões”.
Corisco/ ultima foto
Durante a emboscada que vitimou o bando, Corisco estava na outra margem do rio e seguiria para Angicos no dia seguinte. Conta-se que ele ouviu os tiros do combate, mas não pode reagir. No dia seguinte, foi a casa de Joca Bernardes, seu coiteiro, assuntar quem havia entregue Lampião. Joca, o próprio culpado, levou o nome de Domingos Ventura, morador da fazenda Patos. Corisco, à revelia das repetidas negações de Domingos, matou quase toda a família e remeteu as cabeças em um saco para João Bezerra.
TEN. JOÃO BEZERRA E CEL. JOSÉ RUFINO (ESTE ÚLTIMO MATOU CORISCO)
João Bezerra, o tenente pernambucano, delegado da cidade alagoana de Piranhas, foi o depositário dos louros pelo assassinato histórico do maior de todos os cangaceiros. Depois do ocorrido, João Bezerra escreveu o livro Como dei cabo de Lampião, mas deixou inacabadas suas memórias. Ele relatava com satisfação como cortou a cabeça de Maria Bonita, ainda viva, agonizando depois dos muitos tiros que recebeu. Conta-se também, que Bezerra era coiteiro de Lampião, fornecendo armas para contrabando.
PONTARIA - DECAPITADO
ZEPELIM - DECAPITADO EM 1937
MARIANO, PAI VÉIO
CABEÇAS DE SERRA BRANCA, ELEONORA E AMEAÇO 4 MESES ANTES DE ANGICOS, MORTOS PELO CAP. BEZERRA
A minissérie "Lampião e Maria Bonita", com Nelson Xavier e Tânia Alves, exibida pela Rede Globo em 1982, foi a primeira minissérie produzida pela emissora. Ao todo, foram feitos mais de trinta filmes sobre Lampião, entre documentários, curtas e longas.
Leia relatos de um sequestrado aqui
Apesar de ser semi-analfabeto, Lampião era aficcionado por leitura, tinha exelente caligrafia e exelente artesão de couro. Sò de Napoleão Bonaparte, lampião leu três biografias, de onde tirou o modelo para suas roupas e chapéu.
CANÁRIO COM 3 CANGACEIROS
Traição No Cangaço,Barreira Alia se Aos Volantes E Entrega A Cabeça De Atividade...
Cangaceiro "Atividade"
Esse cidadão,"Atividade"tinha uma grande habilidade na castração de pessoas, que o fazia, com a maior eficiência e naturalidade....
Foi assassinado pelo, também cangaceiro “Barreira”, que influenciado pela promessa de anistia acabara de aliar-se aos Volantes, e, como prova de submissão, entrega ás autoridades a cabeça de "Atividade". fato ocorrido em 05 de junho de 1938, na região de Caboclo, Pão de Açúcar, estado de Alagoas.
Manoel Pau-Ferro, conhecido pela alcunha de “Atividade", era alagoano do município de Pão de Açúcar, sendo irmão do cangaceiro "Velocidade". O cabra "atividade”, inicialmente, pertenceu ao grupo de "Corisco ", posteriormente, com a criação de subgrupos, passou a integrar o de "Pancada ", que passou a ser seu líder...
O cangaceiro "Barreira", e a cabeça dependurada de "Atividade"
...seu ex-“companheiro
Os "coiteiros" eram parceiros do bando que compravam comida, avisavam quando as "volantes" estavam se aproimando e levavam os recém-nascidos para serem adotados por outras famílias.
CABEÇA DE ZEPELIM EM 1937 / BANDO APÓS CAPTURA PELA VOLANTE
Após matarem todos do bando, os soldados saquearam seus bens, havia inclusive muito ouro, e para roubar os anéis, cortavam os quatro dedos das mãos de uma só vez, pois não havia tempo para retirar as jóias.
A música "Mulher rendeira" foi composta por Lampião em homenagem a sua avó materna e madrinha, D. Maria Jacosa, que o criou desde os cinco anos e foi quem o ensinou a ler.
Era costume das volantes deceparem as cabeças dos cangaceiros e exporem publicamente, assim como era costume dos cangaceiros "sangrarem" suas vítimas e também fazerem "castrações".
Ao contrário do que muitos falam, Lampião e Padre Cícero tinha forte amizade, para o cangaceiro, o padre era um santo e o venerava. Padre cícero tentou dissuadi-lo do cangaço por várias ocasiões, mas sem sucesso. Tentou também impedir que entrassem mulheres para o bando, também sem êxito por casa da perseverança de Maria Bonita.
CANGACEIRO VILA NOVA E PANCADA APÓS CAPTURA
Em 1938 foi anunciado que passaria, no cine Moderno, o filme sobre Lampião feito por Benjamim Abraão. O DIP apreendeu e sensurou o filme, impedindo sua exposição. Somente em 1954 é que foi apresentado no Rio de Janeiro, mas com muitos cortes, feito pela sensura.
VERA LÚCIA (NETA) E EXPEDITA (FILHA DE LAMPIÃO E MARIA BONITA)
Lampião e Maria Bonita tiveram uma filha, Expedita Ferreira, que lhes deu 3 netos: Cleyse Mary, Djair e Vera Lucia, esta última, jornalista empenhada em preservar a memória dos avós e corrigir injustiças contadas através dos tempos.
João Ferreira da Silva, conhecido por João Peitudo, ganhou fama quando disse ser filho de Lampião e Maria Bonita. Após dois exames de DNA, constatou-se que não era verdade. João peitudo faleceu com 62 anos de morte natural no dia 26 de junho de 2000, em Juazeiro do Norte, a 563 quilômetros de Fortaleza.
Durante muito tempo, as famílias de Lampião, Corisco e Maria Bonita lutaram para dar um enterro digno aos seus parentes. O enterro dos restos mortais dos cangaceiros só ocorreu depois do projeto de lei no. 2867, de 24 de maio de 1965. As cabeças de Lampião e Maria Bonita foram sepultadas no dia 6 de fevereiro de 1969. Os demais integrantes do bando tiveram seu enterro uma semana depois.
LOCAL DA EMBOSCADA ATUALMENTE, COM CRUZES E UMA PLACA DE BRONZE
No dia 23 de março de 1940, a volante Zé Rufino combate o bando. Dadá é gravemente ferida no pé direito; Corisco leva um tiro nas costas, que lhe atinge a barriga, deixando os intestinos à mostra. O casal é transportado, então, para o hospital de Ventura. Devido à gangrena, Dadá (Sérgia Maria da Conceição) sofre uma amputação alta da perna direita, mas Corisco (Cristino Gomes da Silva Cleto) não resiste aos ferimentos, vindo a falecer no mesmo dia. O fiel amigo de Lampião é enterrado no dia 23 de março de 1940, no cemitério da cidade Miguel Calmon, na Bahia. Dez dias após o sepultamento, o seu cadáver foi exumado: decepam-lhe a cabeça e o braço direito e expõem essas partes, também, no Museu Nina Rodrigues. A cabeça de Corisco foi enterrada em 1969 em Salvador.
Fonte 2: Memória do Nordeste, TV Diário
Fonte : Fundação Joaquim Nabuco
CRONOLOGIA
1898 - Em julho, Virgolino Ferreira da Silva nasce na fazenda Passagem de Pedras, em Vila Bela (atual Serra Talhada, PE).
1916 - Uma invasão de propriedade e pretensos roubos de animais por parte de um morador de Saturnino são os motivos do primeiro tiroteio entre os irmão Antônio, Levino e Virgolino Ferreira, o futuro Lampião.
1920 - O desenrolar das intrigas entre famílias causa a morte de José Ferreira, pai de Virgolino. Os três irmãos entram para o bando de Sinhô Pereira.
1922 - Sinhô Pereira abandona o cangaço e Lampião, assume o comando do bando.
1926 - À convite de Padre Cícero (Juazeiro - CE), Lampião entra na cidade para integrar os Batalhões Patrióticos.
1927 - O bando fracassa na famosa invasão a Mossoró (RN).
1928 - O bando atravessa o rio São Francisco e concentra suas ações nos estados da Bahia e Sergipe.
1930 - Maria Bonita estréia a entrada das mulheres no cangaço (Paulo Afonso, BA). Depois dela entram outras como Dadá (mulher de Corisco), Sila e Durvalina.
1936 - O libanês Benjamin Abrahão, ex-secretário particular de Padre Cícero, fotografa e filme Lampião e seu bando.
1938 - Na Grota de Angicos (Poço Redondo, SE), no dia 28 de julho, Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros foram mortos por volantes alagoanas sob o comando do tenente pernambucano João Bezerra.
SOBRE LAMPIÃO
Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião(Serra Talhada, 7 de julho de 1898 — Poço Redondo, 28 de julho de 1938), foi um cangaceiro brasileiro. O seu nascimento, porém, só foi registrado no dia 7 de agosto de 1900.
Uma das versões a respeito de sua alcunha é que ele modificou um fuzil, possibilitando-o a atirar mais rápido, sendo que sua luz lhe dava a aparência de um lampião.
Biografia
Foi o terceiro filho de José Pereira do Santos e de Maria Lopes da Conceição. Tinha como irmãos: Antônio, João, Levino, Ezequiel, Angélica, Virtuosa, Maria e Amália.
Lampião teve uma infância comum a todos os meninos de uma baixa classe média sertaneja: aprendeu a ler e a escrever, mas logo foi ajudar o pai, pastoreando seu gado. Trabalhou também com seu pai como almocreve - pessoa que transportava mercadorias a longa distância no lombo de burros. Quando adolescente, acompanhado por seus irmãos Levino e Antônio, envolveu-se em crimes por questões familiares. Na época de adolescentes, ele e seus dois irmãos, Levino e Antônio já tinham fama de valentões, andavam armados e gostavam de arrumar confusão nas feiras livres para impressionar as moças. Também tinham o costume de pedir dinheiro por onde passavam.
Seu pai era um homem tranquilo e pacífico. Após várias tentativas que procuravam finalizar a rixa (por questões de disputa de terras e demarcação de divisas entre propriedades rurais) existente contra a família do seu vizinho José Saturnino, acabou sendo morto pelo delegado de polícia Amarílio Batista e pelo Tenente José Lucena, quando o destacamento procurava por Virgulino, Levino e Antônio, seus filhos.
No ano de 1920, com o objetivo de vingar a morte do pai, Lampião alistou-se na tropa do cangaceiro Sebastião Pereira, também conhecido como Sinhô Pereira.
Em 1922, Sinhô Pereira decidiu deixar o cangaço e passou o comando para Virgulino (Lampião).
Sede de vingança, cobiça e concentração do poder que por Sinhô Pereira lhe fora outorgado, levaram Lampião a se tornar um dos bandidos mais procurados e temidos de todos os tempos, no Brasil. Nesse mesmo ano realiza o primeiro assalto, à casa da baronesa de Água Branca (Alagoas), na qual seus homens saquearam vultosa quantia em dinheiro e joias.
Em 1926, refugiou-se no Ceará e no dia 4 de março recebeu uma intimação do Padre Cícero em Juazeiro do Norte (Ceará), para se juntar ao Batalhão Patriótico do município e enfrentar a Coluna Prestes, em troca, receberia anistia de seus crimes e a patente de Capitão. Lampião, que era devoto do sacerdote cearense, atendeu prontamente o chamado e foi a Juazeiro com quarenta e nove cangaceiros. Existem duas versões para o encontro: na primeira, difundida pelo norte-americano Billy Jaynes Chandler, o próprio Padre Cícero teria convocado Lampião[3]; na segunda, defendida por Lira Neto e Anildomá Willians, entre outros historiadores, o convite teria sido feito por Floro Bartolomeu sem que Padre Cícero soubesse. O certo é que ao chegarem em Juazeiro, Lampião e seus comandados, receberam sermão de Padre Cícero aconselhando-os a abandonar o cangaço. Como Lampião exigia receber a patente que lhe fora prometida, Pedro de Albuquerque Uchoa, único funcionário público federal no município, escreveu em uma folha de papel que Lampião seria, a partir daquele momento, Capitão e receberia anistia por seus crimes. O bando deixou Juazeiro sem enfrentar a Coluna Prestes. Ao chegar no Pernambuco, foi perseguido pela polícia e descobriu que nem a anistia nem a patente tinham valor oficial. Voltou, então, ao banditismo.
Em 13 de junho de 1927, após sequestrar o Coronel Antônio Gurgel, promoveu uma tentativa de invasão à cidade de Mossoró (Rio Grande do Norte), onde perdeu dois de seus famosos auxiliares: "Colchete", fulminado por uma bala de fuzil logo no início dos combates com os defensores da cidade, e "Jararaca", ferido no tórax e na perna, capturado no dia seguinte, depois de passar a noite escondido fora da cidade, e depois executado e sepultado no cemitério da cidade pela polícia local. Depois desta derrota, Lampião passaria a ser perseguido pela polícia de três estados: Paraíba, Pernambuco e Ceará. Em fuga, atravessou o rio São Francisco com apenas 5 'cabras' e reestruturou seu bando no Estado da Bahia. A partir daí, passou a agir principalmente nos estados de Sergipe, Bahia e Alagoas.
Maria Bonita
Em fins de 1930, escondido na fazenda de um coiteiro - nome dado a quem acolhia os cangaceiros - conheceu Maria Déia, a mulher do sapateiro Zé de Neném, que se apaixonou por Lampião e com ele fugiu, ingressando no bando. A mulher de Lampião ficou conhecida como Maria Bonita e, a partir daí, várias outras mulheres se integraram ao bando
Pouco tempo depois, Maria Bonita engravida e sofre um aborto. Mas, em 1932, o casal de cangaceiros tem uma filha. Chamam-na de Expedita. Maria Bonita dá à luz no meio da caatinga, à sombra de um umbuzeiro, em Porto da Folha, no estado de Sergipe. Lampião foi o seu próprio parteiro.[1] Também em 1932, Lampião e seu grupo passam pela cidade de Paranatama (na época conhecida como serrinha do catimbau, sul do agreste pernambucano), lá Lampiã travou uma batalha contra os moradores da cidade, estes conseguiram resistir, e Lampião saiu da cidade derrotado com Maria Bonita baleada.
Como se tratava de um período de intensas perseguições e confrontos, e a vida era bastante incerta, os pais não tinham condições de criá-la dentro do cangaço. Os fatos que ocorreram viraram um assunto polêmico porque uns diziam que Expedita tinha sido entregue ao tio João, irmão de Lampião que nunca fez parte do cangaço; e outros testemunharam que a criança foi deixada na casa do vaqueiro Manuel Severo, na Fazenda Jaçoba.
No ano de 1936, o comerciante Benjamin Abraão, com uma carta de recomendação do Padre Cícero, consegue chegar ao bando e documenta em filme Lampião e a vida no cangaço. Esta "aristocracia cangaceira", como define Lampião, tem suas regras, sua cultura e sua moda. As roupas, inspiradas em heróis e guerreiros, como Napoleão Bonaparte, são desenhadas e confeccionadas pelo próprio Lampião. Os chapéus, as botas, as cartucheiras, os ornamentos em ouro e prata, mostram sua habilidade como artesão.
Maria Bonita sempre insistia muito para que Lampião cuidasse do olho vazado. Diante dessa insistência, ele se dirige a um hospital na cidade de Laranjeiras, em Sergipe, dizendo ser um fazendeiro pernambucano. Virgulino tem o olho extraído pelo Dr. Bragança - um conhecido oftalmologista de todo o sertão - e passa um mês internado para se recuperar. Após pagar todas as despesas da internação, ele sai do hospital, escondido, durante a madrugada, não sem antes deixar escrito, à carvão, na parede do quarto:
"Doutor, o senhor não operou fazendeiro nenhum. O olho que o senhor arrancou foi o do Capitão Virgulino Ferreira da Silva, Lampião".
Morte de Lampião
As cabeças dos cangaçeiros incluindo Lampião e Maria Bonita
No dia 27 de julho de 1938, o bando acampou na fazenda Angicos, situada no sertão de Sergipe, esconderijo tido por Lampião como o de maior segurança. Era noite, chovia muito e todos dormiam em suas barracas. A volante chegou tão de mansinho que nem os cães pressentiram. Por volta das 5:15 do dia 28, os cangaceiros levantaram para rezar o oficio e se preparavam para tomar café, foi quando um cangaceiro deu o alarme, já era tarde demais.
Não se sabe ao certo quem os traiu. Entretanto, naquele lugar mais seguro, segundo a opinião de Virgulino, o bando foi pego totalmente desprevenido. Quando os policiais do Tenente João Bezerra e do Sargento Aniceto Rodrigues da Silva, abriram fogo com metralhadoras portáteis, os cangaceiros não puderam empreender qualquer tentativa viável de defesa.
O ataque durou uns vinte minutos e poucos conseguiram escapar ao cerco e à morte. Dos trinta e quatro cangaceiros presentes, onze morreram ali mesmo. Lampião foi um dos primeiros a morrer. Logo em seguida, Maria Bonita foi gravemente ferida. Alguns cangaceiros, transtornados pela morte inesperada do seu líder, conseguiram escapar. Bastante eufóricos com a vitória, os policiais apreenderam os bens e mutilaram os mortos. Apreenderam todo o dinheiro, o ouro e as joias.
A força volante, de maneira bastante desumana para os dias de hoje, mas seguindo o costume da época, decepa a cabeça de Lampião. Maria Bonita ainda estava viva, apesar de bastante ferida, quando sua cabeça foi degolada. O mesmo ocorreu com Quinta-Feira, Mergulhão (os dois tiveram suas cabeças arrancadas em vida), Luis Pedro, Elétrico, Enedina, Moeda, Alecrim, Colchete e Macela. Um dos policiais, demonstrando ódio a Lampião, desfere um golpe de coronha de fuzil na sua cabeça, deformando-a. Este detalhe contribuiu para difundir a lenda de que Lampião não havia sido morto, e escapara da emboscada, tal foi a modificação causada na fisionomia do cangaceiro.
Feito isso, salgaram as cabeças e as colocaram em latas de querosene, contendo aguardente e cal. Os corpos mutilados e ensangüentados foram deixados a céu aberto, atraindo urubus. Para evitar a disseminação de doenças, dias depois foi colocada creolina sobre os corpos. Como alguns urubus morreram intoxicados por creolina, este fato ajudou a difundir a crença de que eles haviam sido envenenados antes do ataque, com alimentos entregues pelo coiteiro traidor.
Percorrendo os estados nordestinos, o coronel João Bezerra exibia as cabeças - já em adiantado estado de decomposição - por onde passava, atraindo uma multidão de pessoas. Primeiro, os troféus estiveram em Piranhas, onde foram arrumadas cuidadosamente na escadaria da igreja, junto com armas e apetrechos dos cangaceiros, e fotografadas. Depois Maceió e depois, foram ao sul do Brasil.
No IML de Maceió, as cabeças foram medidas, pesadas, examinadas, pois os criminalistas achavam que um homem bom não viraria um cangaceiro: este deveria ter características sui generis. Ao contrário do que pensavam alguns, as cabeças não apresentaram qualquer sinal de degenerescência física, anomalias ou displasias, tendo sido classificados, pura e simplesmente, como normais.
Do sul do País, apesar de se encontrarem em péssimo estado de conservação, as cabeças seguiram para Salvador, onde permaneceram por seis anos na Faculdade de Odontologia da UFBA da Bahia. Lá, tornaram a ser medidas, pesadas e estudadas, na tentativa de se descobrir alguma patologia. Posteriormente, os restos mortais ficaram expostos no Museu Nina Rodrigues, em Salvador, por mais de três décadas.
O Memorial da Resistência localizado em Mossoró no Rio Grande do Norte é um museu que retrata a história da única cidade nordestina a resistir a invasão do bando de Lampião.
Durante muito tempo, as famílias de Lampião, Corisco e Maria Bonita lutaram para dar um enterro digno aos seus parentes. O economista Silvio Bulhões, em especial, filho de Corisco e Dadá, empreendeu muitos esforços para dar um sepultamento aos restos mortais dos cangaceiros e parar, de vez por todas, essa macabra exibição pública. Segundo o depoimento do economista, dez dias após o enterro do seu pai violaram a sepultura, exumaram o corpo e, em seguida, cortaram-lhe a cabeça e o braço esquerdo, colocando-os em exposição no Museu Nina Rodrigues.
O enterro dos restos mortais dos cangaceiros só ocorreu depois do projeto de lei no. 2867, de 24 de maio de 1965. Tal projeto teve origem nos meios universitários de Brasília (em particular, nas conferências do poeta Euclides Formiga), e as pressões do povo brasileiro e do clero o reforçaram. As cabeças de Lampião e Maria Bonita foram sepultadas no dia 6 de fevereiro de 1969. Os demais integrantes do bando tiveram seu enterro uma semana depois . Assim, a era do cangaço se encerrou, com a Morte de Virgulino.
Lampião compositor
Cercada pela lenda de que teria sido feita por Lampião, "Mulher Rendeira" é um antigo tema popular, muito cantado nos sertões nordestinos ao tempo do rei do cangaço. Por isso foi incluído no premiado filme "O Cangaceiro", de Lima Barreto, que o celebrizou no país e no exterior. Na ocasião, sofreu uma adaptação do compositor Zé do Norte (Alfredo Ricardo do Nascimento), autor de outras músicas do filme, que manteve a sua estrutura original.
Comprova o sucesso de "Mulher Rendeira" o grande número de gravações que recebeu na época, inclusive fora do Brasil. Tem até uma gravação de um antigo cabra do bando de Lampião, o cangaceiro Volta Seca.
Virgolino Ferreira da Silva era o terceiro dos muitos filhos de José Ferreira da Silva e de Maria Lopes. Nasceu em 1898, como consta em sua certidão de batismo, e não em 1897, como citado de várias obras.
A família Ferreira formou-se na seguinte sequência, por datas de nascimento:
1895 - Antonio Ferreira dos Santos
1896 - Livino Ferreira da Silva
1898 - Virgolino Ferreira da Silva
???? - Virtuosa Ferreira
1902 - João Ferreira dos Santos
???? - Angélica Ferreira
1908 - Ezequiel Ferreira
1910 - Maria Ferreira (conhecida como Mocinha)
1912 - Anália Ferreira
Todos os filhos do casal nasceram no sítio Passagem das Pedras, pedaço de terras desmembrado da fazenda Ingazeira, às margens do Riacho São Domingos, no município de Vila Bela, atualmente Serra Talhada, no Estado de Pernambuco.
Esse sítio ficava a uns 200 metros da casa de dona Jacosa Vieira do Nascimento e Manoel Pedro Lopes, avós maternos de Virgolino. Por causa dessa proximidade Virgolino residiu com eles durante grande parte de sua infância. Seus avós paternos eram Antonio Ferreira dos Santos Barros e Maria Francisca da Chaga, que residiam no sítio Baixa Verde, na região de Triunfo, em Pernambuco.
A infância de Virgolino transcorreu normalmente, em nada diferente das outras crianças que com ele conviviam. Todas as informações disponíveis levam a crer que as brincadeiras de Virgolino com seus irmãos e amigos de infância eram nadar no Riacho São Domingos e atirar com o bodoque,
Um arco para bolas de barro. Também brincavam de cangaceiros e volantes, como todos os outros meninos da época, imitando, na fantasia, a realidade do que viam à sua volta, "enfrentando-se" na caatinga. Em outras palavras, brincavam de "mocinho e bandido", como faziam as crianças nas outras regiões mais desenvolvidas do país.
Foi alfabetizado por Domingos Soriano e Justino de Nenéu, juntamente com outros meninos. Freqüentou as aulas por apenas três meses, tempo suficiente para que aprendesse as primeiras letras e pudesse, pelo menos, escrever e responder cartas, o que já era mais instrução do que muitos conseguiam durante toda sua vida, naquelas circunstâncias.
O sustento da família vinha do criatório e da roça em que trabalhavam seu pai e os irmãos mais velhos, e da almocrevaria. O trabalho de almocreve estava mais a cargo de Livino e de Virgolino, e consistia em transportar mercadorias de terceiros no lombo de uma tropa de burros de propriedade da família.
Os trajetos variavam bastante, mas de forma geral iniciavam-se no ponto final da Great Western, estrada de ferro que ligava Recife a Rio Branco, hoje chamada Arcoverde, em Pernambuco. Ali recolhiam as mercadorias a serem distribuídas pelos locais designados por seus contratantes, em diversas vilas e lugarejos do sertão. Esse conhecimento precoce dos caminhos do sertão foi, sem dúvida, muito valioso para o cangaceiro Lampião, alguns anos mais tarde.
Por duas vezes Virgolino acompanhou a tropa até o sertão da Bahia, mais exatamente até as cidades de Uauá e Monte Santo. Nesta última havia um depósito de peles de caprinos que eram, de tempos em tempos, enviadas pelo responsável, Salustiano de Andrade, para a Pedra de Delmiro, em Alagoas, para processamento e exportação para a Europa.
Esta informação nos foi prestada por dona Maria Corrêa, residente em Monte Santo, Bahia. Dona Maria Corrêa, mais conhecida como Maria do Lúcio, exercia a profissão de parteira e declarou-nos que, quando jovem, conheceu Virgolino Ferreira durante uma de suas visitas ao depósito de peles.
Como curiosidade e melhor identificação, dona Maria Corrêa é a parteira que foi condecorada pelo então presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira ao completar mil partos realizados com sucesso.
É bom frisar que as peles caprinas não eram compradas pelos Ferreira, apenas transportadas por eles, num serviço semelhante ao do frete rodoviário dos dias atuais.
Em quase todas suas viagens os irmãos tinham a companhia de Zé Dandão, indivíduo que conviveu durante muito tempo com a família Ferreira.
Nossas pesquisas na região comprovaram, através de diversos depoimentos pessoais, que José Ferreira, o patriarca da família, era pessoa pacata, trabalhadora, ordeira e de ótima índole, do tipo que evita ao máximo qualquer desentendimento.
Esses depoimentos positivos merecem especial atenção e ainda maior credibilidade por terem sido prestados por pessoas inimigas da família. Apesar da inimizade preferiram contar a verdade a denegrir gratuitamente o nome de José Ferreira.
A mãe de Virgolino já era um pouco diferente, mais realista em relação ao ambiente em que viviam. De maneira geral todos os entrevistados declararam que José Ferreira desarmava os filhos na porta da frente e dona Maria os armava na porta de trás dizendo:
- Filho meu não é para ser guardado no caritó. Não criei filho para ser desmoralizado.
CANGAÇO, UM MODO DE VIDA
A pesquisadora Vera Ferreira* revela aspectos da vida dos cangaceiros, seu código de honra, sua religiosidade e a notória capacidade de combate e sobrevivência.
Vale a pena, antes de entrarmos a fundo na história de Lampião, darmos uma passada rápida sobre alguns hábitos dos cangaceiros, quase todos voltados para maior eficiência em seu ofício e para a garantia de sua sobrevivência.
Durante a primeira fase de Lampião, por exemplo, ele aprendeu muito com Sinhô Pereira, e quando mais tarde assumiu o grupo, introduzindo novas técnicas de luta, como rapidez de fogo com o rifle “peado”. Essa operação consistia em amarrar um lenço ou um pedaço de correia na alavanca da arma, de forma que ficasse obstando a ponta do gatilho, exatamente no ponto em que faz desarmar o rifle. Assim preparado, a única demora no uso da arma é para carregar. É só acionar alavanca e as detonações se sucedem, com a velocidade dos tiros dependendo apenas da habilidade de quem executa a manobra, chegando a parecer uma metralhadora. Ninguém conseguia fazer isso com a infernal habilidade de Lampião, seu inventor.
Lampião também introduziu novas atividades, como a exigência de elevadas importâncias para liberação de reféns. Foi também nessa fase inicial que Lampião determinou a divisão do bando em grupos menores que agiam independentemente e em locais distante uns dos outros. Isso trazia muita confusão para quem estivesse perseguindo Lampião, pois nunca se sabia exatamente onde ele estava. Qualquer ato praticado por qualquer um desse grupo era automaticamente atribuído ao Rei do Cangaço estivesse ele presente ou não.
Segundo depoimentos de contemporâneos de Lampião, todos são unânimes ao afirmar que os cangaceiros tinham um rígido comportamento em questões morais, especialmente aqueles dirigidos por Lampião. Eram também extremamente religiosos e muito supersticiosos, parte de sua herança cultural e familiar. Respeitavam a figura dos padres, de forma geral, e de padre Cícero em especial. Em várias ocasiões deixaram de assaltar casas apenas porque tinha imagens do padre Cícero. Um pedido de padre Cícero era uma ordem, e a simples invocação de seu nome salvou muitas vidas.
Quase todos os cangaceiros carregavam patuás e rezas fortes, embrulhadas em saquinhos de pano junto ao corpo acompanhadas de santos de sua devoção. O cangaceiro Balão nos contou que sua mãe o avisara que nunca deveria se casar, para conservar o corpo fechado, e que jamais deveria tomar banho de mar, para não ficar desprotegido. Tais recomendações só foram abandonadas por ele muitos anos após ter deixado a vida cangaceira. Balão tinha também uma história introduzida em seu braço, o que, segundo ele, protegia e mantinha seu corpo fechado. Balão faleceu no dia 13 de junho de 1992, às 9:00 de um sábado, em Itaquaquecetuba, São Paulo.
Na segunda fase de Lampião ele procurou acompanhar o progresso, utilizando-se de facilidades à medida que iam surgindo. Sempre que possível passou a usar carros, lanternas e pilhas, garrafas térmicas e telefones. Deixou-se fotografar e filmar, assim como a seu grupo, pelo árabe Benjamin Abraão Botto. Esta foi uma decisão muito feliz, pois possibilitou o registro histórico do bando, de onde tiramos uma visão muito exata de como viviam, com se trajavam e como se aramavam os grupos por ele comandados. Através dessas fotos e desses filmes temos a oportunidade de conhecer os personagens da história do cangaço.
Ao contrário do que afirmam alguns escritores os cangaceiros bebiam à larga, às vazes com conseqüências fatais, e também fumavam. Entres os pertences de Lampião havia uma pequena peça feita de couro, onde ele levava fumo picado e papel de seda para confecção de cigarros, que ele mesmo fazia com habilidade e perfeição.
Maria Bonita e LampiãoAs mulheres, a partir de quando passaram a integrar os grupos de cangaceiros, seguiam o mesmo padrão geral dos homens. Os bailes passaram, então, a contar com sua presença, além de outras “damas” convocadas para fazer companhia aos solteiros. Lampião ao final dos bailes, dava uma certa importância ás “damas” para comprarem perfume, isso para compensar o “mau cheiro” dos cangaceiros. Era o pagamento pelo seu “trabalho”.
Como em todas comunidade, aconteceram casos de infidelidade, embora em raras ocasiões. Estranhamente, as mulheres sempre pagaram a traição com sua próprias vidas. Tivemos os exemplos de Lídia, mulher de Zé Baiano, Lili, de Moita Brava, Cristina de Português, entre outros. Aos homens infiéis nada acontecia. Lampião tinha também o hábito de utilizar bilhetes para solicitar “contribuições espontâneas”. Se era atendido não havia conseqüências. Em caso de negativa ou de resposta atrevidas a conduta era outra... tomavam-nas à força. Parte dessas “contribuições”, algumas vezes, era utilizada para ajudar famílias necessitadas.
TÁTICAS DE LUTAS
Lampião foi considerado, até por seus inimigos, o “General do Sertão”. Era grande estrategista, sempre inovando e surpreendendo seus inimigos. Um dos exemplos foi o combate de Serra Grande, no ano de 1926, quando enfrentou enorme força militar equipada com armamento modernos tais como duas metralhadoras e, ainda assim, obteve memorável vitória.
Já no ano seguinte, em ato de enorme ousadia, atacou a cidade de Mossoró. Apesar de ter quinhentos soldados sob o comando do major Moisés Fiqueiredo em seu encalço, conseguiu romper o cerco e salvar seus companheiros. Os cangaceiros, sempre que possível, evitavam combater. Mas quando o confronto era inevitável, tinham como objetivo fazer com que a luta fosse breve. Normalmente Lampião ia ordenando que os companheiros fossem se retirando, deixando alguns para fazer a cobertura. Combinava antecipadamente o local de encontro, e ao chegar ao ponto de reunião dava uma descarga com seu revolver, avisando aos que ainda estavam dispersos. Ou estão se utilizava de um apito que viçava amarrado a uma fina tira de couro e preso na cintura que sustentava o cantil. O trilar desse apito tanto significava o chamado para se agruparem como o aviso de debandada.
São famosas as determinações para as retaguardas, utilizadas em muitos casos. Por exemplo, um grupo de cangaceiros deixava o local da luta e contornava os inimigos, atacando-os pelas costas. Essas táticas jamais falhou. Foi o que fizeram no episódio da morte do “Bigode de Ouro”. O melhor comandante de retaguarda que Lampião teve foi Antônio Ferreira, seu irmão. Alguns vezes, cansados de serem perseguidos e atacados, os cangaceiros invertiam os papéis. Rasteavam e atacavam as volantes que os perseguiam. Como exemplo temos a emboscada preparada por Lampião na fazenda Mandacaru,município de tucano, em 1930, vitimando a volante comandada pelo tenente Geminiano José dos Santos, da Bahia, e pelo sargento José de Miranda Matos, ocasião em que morreram estes dois oficiais e mais sete soldados.
Eram astutos, como quando Lampião no Tanque do Touro, utilizou chocalhos para que os soldados comandados pelo tenente Arsênio pensassem tratar-se de animais que se aproximavam do bebedouro. Ou, para evitar perseguições, cuidavam de esconder os rastros, fazendo-o com tanta mestria que nem o mais atilado dos rastejadores conseguia encontrar qualquer vestígio. Para isso tomavam diversos cuidados. Andavam em fila indiana, com todos pisando na mesma pegada, o que dava a impressão de que havia uma só pessoa. Ou andavam em fila e o último cangaceiro ia apagando os rastros, utilizando galhos folhudos. Sempre que possível andavam sobre as pedras ou dentro de riachos, saindo todos num mesmo local.
Ou, então quando caminhavam em trilhas, pulavam um a um dos lados do caminho, voltando para um ponto pré- determinado, escondendo-se e atacando quem os perseguia. Um assunto bastante polêmico é o tão comentado uso de alpercatas com o calcanhar para a frente. A verdade é que Lampião mandou confeccionar algumas alpercatas assim, com o acalcanhar colocado na parte de frente do calçado, para utilização eventual. Não eram calçados de uso diário. Isso fazia com que os soldados pensassem que estavam indo em direção contrária ao rumo tomado. Não abandonavam mortos ou feridos, deixando-os para trás em raríssimos casos, mesmo assim só se fosse de extrema necessidade. Faziam o possível e o impossível para que tal nunca acontecesse.
Só atiravam quando tinham certeza de que poderiam atingir o inimigo, já que era muito difícil conseguir munição. Dizem que a certeza era tanta que em muitos casos, ao atirar, alguns cangaceiros diziam: “Deus te chama”. Lutavam cantando, pulando e insultando os inimigos, procurando abalar psicologicamente seus adversários. Também tinham o hábito de imitar animais e pássaros. Eram seres humanos aguerridos e valente, mas também astutos e ardilosos e sempre hábeis em aprender novos truques.
Aracaju Magazine: 1ª Quinzena de Setembro de 2003 / Por: Vera Ferreira
(www.aracaju.com))
Entrevista: Lampião e Maria Bonita
Lampião, durante sua visita a Juazeiro do Norte, para onde se dirigira a convite do padre Cícero Romão, para integrar o Batalhão Patriótico no combate à coluna Prestes, foi entrevistado pelo médico de Crato, Dr. Octacílio Macêdo. Naquela ocasião, como dissemos anteriormente, Lampião estava hospedado no sobrado de João Mendes de Oliveira e, durante a entrevista, foi várias vezes à janela, atirando moedas para o povo que se aglomerava na rua.
Essa entrevista é considerada pelos historiadores como peça fundamental no estudo e no conhecimento do fenômeno do cangaço. Vale a pena transcrever seus trechos mais importantes, atualizando a linguagem e traduzindo os numerosos termos regionais para a linguagem de hoje.
A entrevista teve dois momentos. O primeiro foi travado o seguinte diálogo:
- Que idade tem?
- Vinte e sete anos.
- Há quanto tempo está nesta vida?
- Há nove anos, desde 1917, quando me ajuntei ao grupo do Senhor Pereira.
- Não pretende abandonar a profissão?
A esta pergunta Lampião respondeu com outra:
- Se o senhor estiver em um negócio, e for se dando bem com ele, pensará porventura em abandoná-lo? Pois é exatamente o meu caso. Porque vou me dando bem com este "negócio", ainda não pensei em abandoná-lo.
- Em todo o caso, espera passar a vida toda neste "negócio"?
- Não sei... talvez... preciso porém "trabalhar" ainda uns três anos. Tenho alguns "amigos" que quero visitá-los, o que ainda não fiz, esperando uma oportunidade.
- E depois, que profissão adotará?
- Talvez a de negociante.
- Não se comove a extorquir dinheiro e a "variar" propriedades alheias?
- Oh! mas eu nunca fiz isto. Quando preciso de algum dinheiro, mando pedir "amigavelmente" a alguns camaradas.
Nesta altura chegou o 1° tenente do Batalhão Patriótico de Juazeiro, e chamou Lampião para um particular. De volta avisou-nos o facínora:
- Só continuo a fazer este "depoimento" com ordem do meu superior. (Sic!)
- E quem é seu superior?
- ! !
- Está direito...
Quando voltamos, algumas horas depois, à presença de Lampião, já este se encontrava instalado em casa do historiador brasileiro João Mendes de Oliveira.
Rompida, novamente, a custo, a enorme massa popular que estacionava defronte à casa, penetramos por um portão de ferro, onde veio Lampião ao nosso encontro, dizendo:
- Vamos para o sótão, onde conversaremos melhor.
Subimos uma escadaria de pedra até o sótão. Aí notamos, seguramente, uns quarenta homens de Lampião, uns descansando em redes, outros conversando em grupos; todos, porém, aptos à luta imediata: rifle, cartucheiras, punhais e balas...
Fonte: Net
Cadáver do cangaceiro Cirilo de Engrácia, morto por civis e usado como exemplo pela volante alagoana. A cabeça de Cirilo já havia sido decepada, foi recolocada para a foto. 1935. (Autor desconhecido/Acervo Sociedade do Cangaço).
O médico legista Charles Pittex segura as cabeças mumificadas de Lampião e Maria Bonita, elas ficaram expostas por muitos anos na Faculdade de Medicina da Bahia, foto de 1939. (Autor desconhecido).
Volantes do estado da Bahia em registro de Benjamin Abrahão, circa 1936. (Benjamin Abrahão/Acervo Abafilm).
O lendário cangaceiro Lampião posa para foto segurando uma edição de um dos jornais que costumava ler, "O Globo", 1936. (Benjamin Abrahão/Acervo Abafilm).
Corisco, o primeiro a esquerda, tendo ao seu lado a companheira Dadá e integrantes do seu grupo, 1936. (Benjamin Abrahão/Acervo Abafilm).
Zé Rufino, o primeiro em pé e a esquerda, junto com os membros de sua volante na época do cangaço
LAMPIÃO, MARIA BONITA E SEUS CACHORROS.
Cangaceiro CORISCO, sua mulher DADÁ e seu grupo. Vê-se, ainda, a cachorra "JARDINEIRA "
" LAMPIÃO, JURITI E O CÃO "
Jararaca
Maria Bonita
Adília e Sila - Sila é a segunda da esquerda para a direita
Ponto Fino - Ezequiel - Irmão de Lampião
cangaceiro "Bananeira"
cangaceiro "Português"
CANGACEIRO JURITI
VÍTIMA DO CANGACEIRO ZÉ BAIANO
cangaceiro Zé Baiano
Em clima de muita festa, Voluntários da UNIVERSAL. estiveram presentes, neste último sábado na Fundação Casa Franco da Rocha ,para fazer a festa em um evento maravilhoso, e dessa vez ao ar livre, embaixo de muitas árvores, para sentir a natureza, e a presença de Deus, pois ele e o criador de tudo. E foi feita várias atrações para os internos e familiares. Para dar início ao evento esteve presente o Pastor Geraldo Vilhena Coordenador de Evangelização, nas unidades da Fundação Casa de São Paulo, orou por todos os adolescentes e famílias presentes, e disse: Tudo o que vamos fazer aqui hoje é verdade, e é para abençõar a sua vida se você quizer entregar a sua vida para Senhor Jesus basta você abrir o coração . e também na oração pediu para que Jesus tocasse no coração de todos também deu uma palavra sobre salvação, falou da importância do novo nascimento, e de ter um encontro com Deus .
Em seguida A CIA Teatral Força Jovem apresentou uma peça que emocionou a todos os presentes, a peça conta a História de uma pessoa, na qual sua alma foi leiloada,( Leilão de uma alma). A primeira que vem da o primeiro lance, foi a religião, o segundo lance prostituição, terceiro lance bebidas, curtição, quarto lance foi a ganância, e drogas, e por último a morte que deu um lance maior, já no último suspiro, vem o Senhor Jesus que resgata sua alma tirando todas as correntes do mal, e lhe dá uma nova chance.
MORTE
Dando segmento ao evento foi servido muito bolo, refrigerante.
Enquanto era servido a animação ficou por conta da. Da força jovem onde cantaram e alegraram a todos os adolescentes e muitos deles até dançaram funk, foi momentos alegres que ficaram na lembraça de todos.
Os jovens Amauri E Robson (Projeto Dose Mais Forte) relataram as experiências que tiveram com as drogas, crimes, facções e o momento que perceberam que nada daquilo preenchia o vazio que tinham, o risco que corriam, que precisavam de uma dose mais forte para mudar aquela situação. Neste momento os internos e familiares ficaram atentos pois queriam saber o segredo da mudança. Foi aberto espaço para perguntas e respostas e uma delas qwue mais me chamou a atenção foi a de uma mãe de um interno que fez a seguinte pergunta: Robson qual foi o momento da sua vida que você disse eu preciso parar? Robson: Quando eu acordei em um leito de hospital com vários aparelhos chewio de tubos quando quando eu olhei para o meu corpo, e faltava um pedaço dele. Olhei pro lado e não vi mais uma solução, e a conclusão que cheguei
E que precisava de uma mudança e a única pessoa que ficou ao meu lado foi a minha mãe. Adolescente pergunta: Quando você chegou em casa foi algém ou um suposto amigo te procurar? Robson responde: Não ninguém foi me procurar so tive a visita de obreiros da IURD que levaram uma palavra de vida no momento em que eu mais precisava. Funcionário pergunta?Robson Se você antes pensava no futuro, e agora você pensa? Robson responde: Antes não pensava levava uma vida muito louca, mais hoje tenho os pés no chão .e tudo se tornou novo, o passado não existe mais (somente é lembrado para servir de testemunho de transformação de vida).
Robson e Amauri fazem oração pelos internos e famílias.
Integrantes do Teatro da Força Jovem Brasil.
Os funcionários e coordenadores agradeceram a presença da IURD e disseram que as portas estarão sempre abertas para novos eventos.
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