Com a proximidade do Dia dos Namorados, casais correm em busca de presentes caros, jantares em restaurantes badalados e final de semana em hotel cinco estrelas, tudo para comemorar o relacionamento em grande estilo. Uns chegam a divulgar juras de amor eterno nas redes sociais e outros não se intimidam em colocar na internet dezenas de fotos românticas para comprovar o quanto eles se divertem no dia 12 de junho. No resto do ano, porém, o encanto se desfaz e no lugar entram discussões, desrespeito e cara feia. Será mesmo que vale preparar um dia especial e passar outros 364 brigando? Qual é o verdadeiro significado da data dedicada ao amor?
Para Marilice Alves de Lima, de 66 anos, e Álvaro Alves de Lima, de 64, sempre há um bom motivo para cultivar o amor. A dupla, que está unida há 43 anos, conta que aproveita cada momento: os dois jantam fora pelo menos uma vez por semana, viajam e procuram novas atividades para sair da rotina. Mas nem sempre foi assim. Marilice e Álvaro viveram um “casamento de fachada” por pelo menos 23 anos. Enquanto amigos e familiares consideravam o casal um exemplo a ser seguido, na prática o relacionamento deles era marcado por desrespeito e traições. “Nós fazíamos tudo errado, fomos à bancarrota. Quando um não respeita o outro como deve, abre-se espaço para a promiscuidade e a infidelidade. Nós éramos tremendamente infelizes”, conta Álvaro, acrescentando que deixou que a rotina puxada de trabalho tomasse o espaço do casamento.
Após chegar ao fundo do poço, o casal resolveu mudar. Aos poucos, o respeito mútuo foi ressurgindo. Com ele, vieram também o companheirismo, a cumplicidade e a humildade para reconhecer erros e acertos. “Renascemos para uma nova vida, decidimos nos perdoar e hoje vivemos um relacionamento com parceria, sintonia, respeito e amor intenso”, comemora Álvaro. “A beleza que tem a minha esposa nenhuma outra mulher teria, e ver isso é resultado da convivência. Aprendemos até durante as discussões! Usamos as ‘brigas’ para repensar nossas atitudes e para nos reciclar, nunca para envenenar a relação. O casamento é a soma de vários momentos, estamos sempre nos descobrindo”, ensina ele.
Para Marilice, o segredo está na admiração e na sabedoria. “O casamento não pode perder o encantamento, eu admiro o Álvaro até hoje. Conheço meu marido só de olhar, sei do que ele gosta e do que não gosta, e ele idem. Aprendemos a renunciar a algumas coisas e a ceder em benefício dos dois: às vezes, ele faz algumas coisas só para me agradar. Eu, por exemplo, aprendi sobre futebol para acompanhá-lo”, diz Marilice. “O Álvaro é meu eterno namorado porque ele é o grande amor da minha vida, sempre foi e sempre será”, derrete-se ela.
Manter um relacionamento equilibrado é um desafio para muitos enamorados. A psicóloga e terapeuta de casais Rita Dantas explica que o diálogo e o respeito são bons caminhos tanto para uniões que estão começando, como para aquelas que já duram décadas. “Além do amor, a conversa sincera é a base da relação. Se não gostou de algo, converse, não deixe acumular. O casal precisa estar disposto a resolver os conflitos e a construir valores a partir da verdade”, ensina Rita.
A psicóloga lembra que os namorados podem aproveitar o dia 12 de junho para resgatar o romantismo, mandar flores e fazer algo especial. Cada casal ainda pode criar os próprios momentos para celebrar o amor e fugir da acomodação.
E, para quem ainda não tem um grande amor e deseja encontrá-lo, quais são os conselhos? Rita Dantas diz que antes de sair em busca de um namorado ou uma namorada, o candidato deve se valorizar. “Há pessoas que ficam com outras só para contar vantagem ou para não ficarem sozinhas. Namorar é curtir e respeitar um ao outro. Perdemos um pouco o romantismo, mas ainda dá para resgatar isso, deixar-se enamorar. Alguns jovens, por imaturidade, não sabem a diferença entre liberdade e libertinagem. Namoro não só é deixar rolar, estamos tratando de sentimentos humanos”, avalia.
Rita ainda destaca que a pessoa escolhida para namorar participa da vida do outro em tempo integral e acaba até influenciando decisões importantes. “É preciso procurar uma pessoa equilibrada e lembrar que não dá para mudar um indivíduo do dia para a noite.”
Foi buscando alguém com perfil parecido que Isabela Munhoz Nascimento, de 31, encontrou Lúcio Nascimento, de 34. Segundo a moça, a semelhança de gostos e opiniões entre os dois é o que garante o sucesso dos 10 anos de casamento. “A gente sempre se deu bem, o relacionamento é excelente, nunca enfrentamos grandes problemas. Um dos segredos é tentar fazer o outro feliz, automaticamente temos a resposta do outro”, acredita Isabela.
O casal procura conciliar os desejos de cada um para fazer atividades juntos e ainda fortalecer os laços. Foi assim que eles se matricularam em aulas de luta e embarcaram em uma viagem romântica a Paris. Com o nascimento do filho, Leonardo, de 7 meses, o casal passou a dividir os cuidados com o bebê. “A chegada de um novo integrante na família deve somar. Eu dou atenção ao meu marido e o envolvo nos cuidados com o Leonardo para que ele não se sinta perdido”, justifica Isabela.
Diferentemente de Isabela e Lúcio, que já se entendiam desde o início do namoro, Thais Honorato, de 18, e Tuca Prado, de 23, aprenderam a superar as diferenças para ficarem juntos. “Eu cobrava atenção demais dele, olhava os namoros ao redor e queria que o meu fosse igual. Enfrentamos várias dificuldades por conta de gostos, mas aprendemos a conversar e a ceder”, revela Thais. A moça explica que após muito diálogo, o casal percebeu que é possível agradar aos dois dentro do relacionamento. “Um dia fazemos o que eu gosto e, em outro, fazemos o que ele gosta. Não é fácil, mas lutamos para vencer as dificuldades, é um pequeno preço para ser feliz”, comemora Thais.
Mesmo com a boa fase na relação, o casal ainda não escolheu o lugar onde vai passar o Dia dos Namorados. O motivo da suposta falta de planejamento é simples: a comemoração deles é feita todos os dias.
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