Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), há mais de 20 anos Mirian Goldenberg vem pesquisando o tema traição. Em seus dois livros, “A Outra” e “Infiel”, a pesquisadora causa polêmica ao contestar praticamente tudo o que diz e se defende sobre a traição. Um bom exemplo é quando a pesquisadora afirma ser perfeitamente possível, ao homem, amar a esposa, mas desejar e se relacionar sexualmente com outra mulher sem que isso prejudique o casamento. Mas não é apenas Goldenberg que encara a infidelidade com mais naturalidade e benevolência que a maioria. Há uma legião de psicólogos defensores de que nem sempre trair é sinônimo de falta de amor e de destruição de lares. É o caso da coordenadora de pós-graduação em educação e terapia sexual da Faculdade de Medicina do ABC, em São Paulo, Arlete Gavranic. A psicóloga diz que a questão da infidelidade foi ganhando importância exagerada ao longo dos anos, mas deixa claro também que suas conclusões são baseadas em conhecimento científico, e que, portanto, não há apologias ao ato de trair, mas apenas conclusões científicas. “Uma pulada de cerca eventual, além de ser mais difícil de ser descoberta, não cria um vínculo. Por isso, é mais fácil de perdoar, já que raramente abala um casamento estável”, diz. “Traição é tão comum quanto sexo. Ambos estão à volta de todos, mas ainda geram enorme tabu”, completa. A terapeuta acredita também que, quando uma traição é descoberta, geralmente não se trata de um caso esporádico, passageiro e sem grande envolvimento. “Quando as “aventuras” são passageiras, não há envolvimento sentimental e, por isso, dificilmente o parceiro descobre.” Para a terapeuta, apenas casos de longo prazo mexem com o relacionamento oficial e também com a estabilidade psicológica do infiel e da pessoa traída. São exatamente essas as pessoas que vão parar nas clínicas de terapia, em busca de ajuda. Mas, apesar de ser o ganha-pão da psicóloga, ela abre o jogo para a realidade:“A intervenção nos consultórios ajuda a entender o que ocorreu, mas não garante a salvação de nenhum casamento”.
QUAL A DIFERENÇA ENTRE INDIVIDUO NORMAL E NEURÓTICO?309. A diferença entre o indivíduo normal e o neurótico, ou neurótico do caráter, é apenas de grau. Todos nós temos momentos neuróticos: verificamos e reverificamos se o fogão a gás está bem fechado e, apesar disso, ainda nos preocupamos. Ao sairmos em viagem planejada, com cuidado, sempre temos um bressalto, por sentir estarmos deixando algo. Não há tampouco quem não tenha momentos de neurose do caráter. Somos acordados, pela décima vez à noite, pelo choro de um de nossos filhos. Sabemos poder estar ele necessitando de alguma coisa, mas, por um momento, sentimo-nos incapazes de agir.
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